quinta-feira, 22 de maio de 2008

Tabelas

RSBC • São Paulo, Quinta-Feira, 22/05/2008 • Revista Nº Página
Discussão
Neste estudo observamos que a idade média dos pacientes que procuram ajuda e apoio especializado no tratamento do alcoolismo, está em torno de 55,4 anos, indicando que nas faixas etárias mais jovens não foram adequadamente orientados ou principalmente, melhor informados em relação à prevenção e causas de câncer.
Um segundo ponto a ser discutido é a presença maciça de usuários do gênero masculino em relação ao feminino, o que pode predizer que há ainda uma inibição das próprias mulheres quanto à necessidade de participação em grupos de apoio e motivação para o combate ao uso do álcool e ou tabaco, constituindo-se numa grande preocupação, pois a incidência de usuárias de álcool e tabaco está em crescimento acentuado nessas últimas três décadas (o que pode ser um agravante psicossocial, pois ainda essas usuárias sofrem a falta de apoio especializado e vivem às custas de sua própria ajuda ou dos entes mais próximos, para mantê-las em sua atividade profissional ou social). Aliado a esses dois grandes problemas, a idade média elevada e a falta da participação feminina, observamos também que a grande maioria (51,8%) dos usuários freqüentou somente o 1º grau (fundamental) e somente 7,4% referiram ter completado o 3º grau (superior), o que nos leva a pensar que a maioria dos usuários que cursaram o ensino fundamental não foram orientados adequadamente ou mesmo informados a respeito da prevenção e causas de câncer e principalmente fatores promotores e efetores que causam essa doença, tais como álcool e tabaco. Dos usuários que freqüentaram o 2º grau (ensino médio), 29,6% referem que o ensino sobre o câncer foi discreto e com pouca ênfase sobre a prevenção e cuidados com o álcool e tabaco. Apesar da pequena amostra em relação aos usuários que completaram o 3º grau (superior) e a conseqüente pouca adesão ao grupo de ajuda e apoio, é para nós motivo de grande preocupação, pois segundo esses usuários a informação a respeito do álcool e tabaco desencadeando o câncer foi pouco informada. Assim, o menor grau de escolaridade mostrou que o uso do tabaco foi mais precoce em relação ao uso do álcool, talvez em razão da facilidade de aquisição do tabaco ou relacionado à influência da família, que nesse caso tivemos nos pais e irmãos tabagistas a maior porcentagem dos pacientes (média de 70%). Encontramos em média cerca de 46% dos participantes que referiram que o uso de bebida alcoólica teve influência da família, principalmente quando relacionado ao pai e ou irmão. Nesse ambiente, onde cerca de 63% das mães não fumavam e nem bebiam, observamos que não houve orientação a respeito das causas de câncer e conseqüências do uso do álcool e tabaco. O grau de conscientização em relação aos malefícios do uso do tabaco e álcool é referido pela grande maioria dos usuários e principalmente a possibilidade de aparecimento de câncer, o que reflete maior informação desse grupo de risco. É interessante saber que apesar de 96,3% desses usuários afirmarem que tabaco e o álcool podem causar o câncer, 33,4% não sabiam quais órgãos poderiam ser comprometidos pelo câncer através do uso do álcool e tabaco e 25,9% citaram o fígado e estômago como principais localizações. A maioria dos usuários deste estudo acredita que o uso do tabaco pode levar ao câncer de pulmão e 56% citaram a boca como segundo sítio anatômico mais freqüente de aparecimento. Segundo, Wald & Hackshaw (1996), o tabaco pode causar câncer em vias aerodigestivas superiores, vesícula biliar, pâncreas, esôfago, estômago, rim, respondendo por cerca de 20 % de todas as mortes nos países desenvolvidos 6. Entretanto, cerca de 52 % dos usuários de álcool apontaram o fígado e o estômago como os sítios anatômicos mais freqüentes de aparecimento de câncer. Diferentemente de nossos achados, Adewole (2002), relata que o consumo de álcool está relacionado com a etiologia do câncer oral, principalmente em soalho de boca, língua e mucosa oral, em relação ao uso do tabaco, relacionando estes achados a uma especificidade de sítios na etiologia deste tipo de câncer 7.
Cinqüenta e nove porcento dos usuários acreditam que o câncer tem cura, principalmente quando diagnosticado precocemente e tratado adequadamente. Porém, quando somamos os usuários que não acreditam na cura do câncer aos que não souberam decidir, observamos um total de 40,8% desses usuários, o que significou para um grupo de risco (27 participantes) que são acompanhados freqüentemente pelos grupos de apoio e da prevenção (anualmente) um baixo grau de conscientização e principalmente de informação.
Conclusões
A faixa etária dos entrevistados corresponde à faixa de maior incidência de neoplasias malignas de vias aerodigestivas superiores, assim como a predominância do gênero masculino. O grau de escolaridade do grupo pode explicar a falta de conhecimento a respeito dos locais mais prováveis de aparecimento de neoplasias malignas relacionadas ao uso de álcool e tabaco. A precocidade do início do uso de álcool e ou tabaco, aliado à forte presença destes hábitos no ambiente familiar, reforça a idéia de que as campanhas de prevenção devam ser direcionadas aos adolescentes, muito mais do que aos adultos, quando os hábitos já se tornaram mais arraigados e associado ao baixo grau de conscientização.

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